“Chernobyl” (HBO)

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O grande evento da televisão esse ano não foi a temporada final de Game of Thrones, mas a estréia da minissérie Chernobyl, também pela HBO.

A guerra fria há muito cessou. Não há anti-comunismo rasteiro, embora as críticas ao governo soviético sejam certeiras. Mas o que desnudou todas as falhas do regime foi a própria ferida no reator 4. Omissão, mentiras, obediência cega, erro(s) humano(s), falha de projeto, uma sequência ininterrupta de acontecimentos colaterais que levou ao desfecho conhecido. Todos narrados com sensibilidade e realismo.

Se um acidente daquela envergadura só poderia acontecer na União Soviética, em que camadas e camadas de omissão burocrática convergiram na culpabilidade do crime, também a solução do acidente é inerentemente soviética: heroica, nacionalista, trágica. A série narra, paralelamente à cadeia inevitável de erros dentro do aparato técnico-científico soviético, o grande sacrifício nacional contra a catástrofe. Mas assim como a Revolução e a Grande Guerra Patriótica, lá toda vitória é de Pirro.

O cuidado com os detalhes e o realismo são admiráveis. Os produtores da série gravaram cenas em uma usina nuclear similar na Lituânia, usina com o mesmíssimo reator RBMK-1000. A ligação que relata o fogo em Chernobil; o aviso do acidente na televisão estatal; a anódina gravação que anuncia a evacuação da cidade; a destruição, a morte, a liquidação: tudo real.

O criador da série, Craig Mazin, é leitor de Svetlana Aleksiévitch, de Vozes de Tchernóbil. O primeiro relato do livro é de Lyudmilla Ignatenko, contando a trágica morte de seu marido, bombeiro que esteve na primeira hora do acidente Vasily Ignatenko. A série também acompanha os Ignatenko, e a catástrofe ganha ares particulares, sem perder, contudo, a dimensão global.

A compositora islandesa Hildur Guðnadóttir dá a ambientação perfeita. Sua música, não há como dizê-lo de outra forma, evoca o fim do mundo. Ela relata ter viajado até a usina na Lituânia utilizada como set de filmagens na série, gravando sons ambientes utilizados posteriormente na sua composição. Mesmo a música precisou ser afetada por radiação.

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